Embora Dune: Part Two estivesse entre os mais esperados de muitos fãs de cinema, eu não fazia parte desse hype em específico. Adoro sci-fi e épicos fantásticos, mas a verdade é que o primeiro Dune para mim era apenas um fantástico exercício de estilo que, embora visualmente impressionante, pouco me cativou no sentido narrativo da coisa. Em outras palavras, era um filme bonito de se ver, e só isso.

No entanto, eis a boa surpresa: a segunda parte correspondeu e superou minhas expectativas, já que eu imaginava que Denis Villeneuve compensaria todo o aspecto enciclopédico do primeiro filme com uma história mais emocionante. O diretor então não só seguiu esse raciocínio como ainda elevou o escopo do épico, elevando a expansão da mitologia desse universo, mas dessa vez sem esquecer de desenvolver propriamente a narrativa de Paul Atreides. Dune: Part Two não é apenas um monte de conceitos empilhados, é um verdadeiro épico que vale a pena ser conferido.

Apresentando um visual ainda mais deslumbrante que antes – o que é a sequência da arena em preto e branco? –, mas atenuando os problemas de antes, Villeneuve elabora esse segundo capítulo como uma conclusão espiritual dos conflitos estabelecidos sem perder de vista o potencial de expandir a franquia para além deste filme, o que impede que o filme soe como um simples aquecimento para o que está por vir, embora – claro –, estabeleça bases sólidas para o futuro dessa história. E faz isso entendendo que mais necessário do que explicar conceitos deste mundo, é trabalhar seus personagens e suas narrativas, um ponto extremamente positivo aqui.

Paul Atreides (Timothée Chalamet) deixa de ser o protagonista apático de antes, para abraçar, embora um pouco relutante, um destino que não compreende completamente. Sua jornada é pontuada com propósitos impostos a ele por outros personagens, como sua mãe (interpretada por Rebecca Fergunson) e o líder dos Fremen (vivido por Javier Barden). Nesse meio, Chani (Zendaya) parece a única que enxerga em Paul menos um líder profético e mais uma pessoa, cuja importância não se resume ao campo de batalha. Essas relações tornam Dune: Part Two muito mais humano, e portanto mais relacionável do que o épico emocionalmente frio de antes.

Ao mesmo tempo, Villeneuve gasta parte de seu tempo para estabelecer sua ameaça, não só trazendo de volta o personagem de Stellan Skarsgård, mas introduzindo o Imperador vivido pelo sempre excelente Christopher Walken e também o guerreiro vivido por Austin Butler, cuja atuação se resume a fazer beicinho e olhar de bravo para deixar claro que é um vilão. E talvez seja nesse núcleo onde o diretor escorrega, já que ao contrário de antes, Villeneuve economiza na contextualização. Assim, embora os novos antagonistas se mostrem interessantes e rendam ótimos momentos, ambos soam um pouco deslocados do resto da trama.

Há também o fator temporal, onde fica claro que a opção de dividir o livro em duas partes não foi apenas mercadológica, mas também criativa: mesmo com uma duração maior que o anterior, e somando mais de 5 horas quando juntos, ainda fica notável a dificuldade de cobrir os eventos da história, já que em mais de um momento o filme parece apressado, com fatos se atropelando e desenvolvimentos bruscos. Caso o espectador desvie a atenção em algum momento, é bem possível se perder nessa trama, e mesmo que haja um bom trabalho na montagem para manter a cronologia do filme clara – a trama se passa por mais de meses –, a longa duração ainda parece pouca para tanta história.

É claro que esses problemas são bem menos agravantes do que a frieza da narrativa do primeiro filme, e Dune: Part Two cativa como épico de ação e ficção-científica. Denis Villeneuve deixa bem aberto ao público sua intenção de levar a obra a seu posto de direito, no hall do sci-fi da mesma maneira que o livro, que representa um grande marco do gênero e inspirou tantas obras que vieram depois. Star Wars que o diga, já que sua trama carrega muito de Dune, e agora é sua adaptação que carrega muito de Star Wars. Que esse universo continue nas telas e permaneça tão épico quanto o cinema possa permitir. Afinal, quem ganha somos nós.

(+) no